

SING SING
Em Sing Sing, acompanhamos Divine G (Colman Domingo), um homem preso injustamente que encontra um novo propósito ao se unir a um grupo de teatro na prisão. Ao lado de outros detentos, ele embarca em um projeto artístico que vai além das grades, descobrindo na arte uma poderosa ferramenta de transformação e resiliência. A chegada de um novo integrante, cauteloso e desconfiado, desafia o grupo a superar suas próprias barreiras emocionais e a explorar a comédia como meio de expressão. Juntos, os homens decidem encenar sua primeira peça cômica, e o processo criativo se torna um caminho para reconciliação consigo mesmos e com suas histórias. Baseado em uma comovente história real, o filme destaca a força da humanidade e o impacto que a arte pode ter em ambientes adversos. Com um elenco de atores anteriormente encarcerados, Sing Sing é um testemunho do poder restaurador do teatro e da possibilidade de redenção, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, reafirmando a dignidade e a esperança daqueles que encontram na expressão artística uma forma de liberdade.
NOTA : 10/10
O cinema, quando no seu melhor, tem o poder de iluminar nuances da humanidade que muitas vezes passam despercebidas. "Sing Sing", dirigido por Greg Kwedar, faz exatamente isso.
Com um olhar cuidadoso sobre a arte como ferramenta de transformação dentro do sistema carcerário, o filme entrega uma experiência que é ao mesmo tempo íntima e grandiosa, conduzida por atuações impecáveis e uma direção que entende o peso e a leveza da história que conta.
Se existia alguma dúvida sobre o talento de Colman Domingo, "Sing Sing" as tira completamente. Ele não só entrega uma performance incrível, como consegue passar impecávelmente a dualidade entre esperança e desespero do personagem. Ele possui um carisma magnético, e aqui ele brilha sem precisar roubar a cena — porque entende que esta é uma história coletiva. Seu trabalho é de uma generosidade rara, elevando todos os outros atores ao seu redor.
E que elenco! O filme faz algo maravilhoso ao incluir atores que viveram a realidade que está sendo retratada, e a autenticidade disso é palpável. Nada soa ensaiado demais, nada parece ficcional. Há algo de documental na forma como eles interpretam, e essa honestidade transforma a o filme em algo humano.
O roteiro nunca apela para o melodrama fácil. O que temos aqui é uma narrativa construída com respeito, que permite a gente mergulhar nos conflitos internos e externos desses personagens sem que precisemos ser guiados pela mão.
A escolha de explorar a arte como um caminho para a liberdade emocional, e não apenas um artifício narrativo, traz uma nova visão sobre o que significa ser homem, sobre vulnerabilidade e sobre a força da criação em meio ao caos.
Sobre a direção, Kwedar faz um trabalho lindo ao nunca perder o foco no que importa: os personagens. Cada escolha de enquadramento, cada movimento de câmera contribui para nos aproximarmos dessas pessoas, suas histórias e suas dores.
Já a direção de fotografia reforça essa abordagem, respeitando a organicidade dos ambientes de um presídio e o que significa estar preso, sem perder a poesia visual.
O grande feito de "Sing Sing" é a sua sensibilidade. Ele não se contenta em apenas contar uma história, mas sim em criar um espaço de escuta para seus personagens e para o público. Há uma honestidade absurda na forma como a narrativa se desenrola, permitindo momentos de leveza e humor sem jamais perder a profundidade do que está em jogo.
A masculinidade, tantas vezes retratada de forma rígida no cinema, ganha novas camadas. Há espaço para a delicadeza, para o medo, para a busca por algo maior.
Tenho que falar da minha decepção do filme receber muito menos atenção do que merece. Talvez por sua abordagem mais contemplativa, talvez pela falta de um grande impulso de marketing, o fato é que deveria estar sendo mais celebrada. É um daqueles filmes que ficam com você, que ressoam muito depois dos créditos subirem.
Um retrato poderoso do poder transformador da arte e da humanidade que existe até mesmo nos lugares mais improváveis. "Sing Sing" é um lembrete de que contar histórias ainda importa. E que o cinema, quando feito com verdade, pode ser revolucionário.
Marina Barancelli
Diretora, Atriz e Produtora
Janeiro 2024i
ELENCO
Colman Domingo, Clarence "Divine Eye" Maclin, Sean San José e Paul Raci.
ROTEIRO
Clint Bentley e Greg Kwedar.
PRODUÇÃO
Monique Walton, Clint Bentley e Greg Kwedar.
DIREÇÃO
Greg Kwedar.