Stephen King é um dos autores mais adaptados para o cinema e a TV, mas poucas dessas adaptações realmente surpreendem pela abordagem. O Macaco, dirigido por Oz Perkins, é uma dessas exceções. Em vez de seguir o caminho convencional do horror sobrenatural, Perkins transforma o conto de King em uma dark comedy, repleta de mortes gráficas e uma tensão psicológica peculiar. A produção, capitaneada por James Wan, eleva ainda mais o projeto, garantindo um valor de produção incrível.

Filho de Anthony Perkins (o eterno Norman Bates de Psicose), Oz Perkins vem se consolidando no horror contemporâneo com uma trajetória peculiar. Seu primeiro longa, “A Enviada do Mal” (2015), trazia um horror de possessão demoníaca ambientado em um internato, enquanto “Maria e João: O Conto das Bruxas” (2020) ressignificava o clássico conto infantil com um viés de amadurecimento sombrio. Aqui, ele aposta na dark comedy, um subgênero que teve seu auge entre os anos 80 e início dos 2000 e que hoje encontra poucos representantes bem sucedidos, como Casamento Sangrento (2019) e Morte, Morte, Morte (2022).

Baseado no conto da antologia Tripulação de Esqueletos (1985), O Macaco segue Hal, um homem que, na infância, encontrou um brinquedo amaldiçoado: um macaco de brinquedo que, a cada batida de tambor, provoca uma morte. No conto, Hal e seu irmão Bill se livram do objeto apenas para reencontrá-lo anos depois, reabrindo traumas e questionando a sanidade. Na adaptação de Perkins, o foco está na relação entre Hal e seu irmão gêmeo Bill, ambos vividos por Theo James (Divergente), trazendo uma nova camada ao material original.

A estrutura da narrativa intercala duas linhas do tempo: a infância dos irmãos, quando encontram o brinquedo, e o presente, onde o terror ressurge. Desde a primeira cena, fica claro que o filme abraça um tom lúdico e violento, equilibrando horror e humor de forma meticulosa. A cada toque dos tambores do macaco, o público se prepara para uma morte absurda e exagerada, evocando a sensação de assistir a um novo Premonição.

A relação entre os irmãos gêmeos, carregada de ressentimentos e traumas, adiciona um subtexto emocional interessante. O filme arranha temas como paternidade e relações familiares disfuncionais, ainda que de forma superficial. Essa complexidade serve não apenas para aprofundar os personagens, mas também como artifício cômico, tornando as interações ainda mais caóticas.

Na direção, Perkins demonstra confiança e precisão ao orquestrar o ritmo frenético das mortes, capturando o tom de comédia com timing impecável. As sequências são visualmente impactantes, muitas vezes exageradas, mas sempre dentro da proposta estética do filme. Theo James entrega uma performance competente, mas o destaque vai para Christian Convery (Sweet Tooth), que interpreta a versão infantil dos gêmeos com energia e carisma. Perkins também faz uma ponta como o Tio Chip, enquanto Elijah Wood aparece em uma participação relâmpago.

O Macaco é uma grata surpresa dentro do horror. Em vez de apenas reproduzir a fórmula do objeto amaldiçoado, o filme transforma o conceito em um jogo sádico e divertido, evocando o melhor do horror cômico. Para os fãs do subgênero, é um deleite; para quem não gosta, talvez seja hora de reconsiderar.