GLADIADOR 2
Anos após testemunhar a morte do herói Maximus (Russell Crowe) pelas mãos de seu tio (Joaquin Phoenix), Lucius (Paul Mescal) enfrenta um novo desafio: forçado a entrar no Coliseu, ele deve lutar pela sobrevivência e pela honra de Roma. Depois de ter sua casa tomada pelos imperadores tirânicos que governam Roma com punho de ferro, Lucius precisa reencontrar a força e a coragem que o inspiraram na juventude.
NOTA: 7.5/10
Começo minha crítica deixando claro que sou uma grande fã do primeiro Gladiador. A história é redonda e se tornou uma referência para filmes épicos, com um guia para uma boa jornada do herói.
Com isso, Gladiador 2 já carregava um peso de grande expectativa, o que acaba sendo problemático, pois criar uma sequência de algo tão bem resolvido é arriscado. E foi exatamente aí que o segundo filme me desapontou.
Vou começar pelos pontos altos. Há, sim, momentos que valem a pena. Denzel Washington entrega uma atuação que faz lembrar o motivo pelo qual ele é uma estrela. Sua presença é imponente, e ele domina cada cena em que aparece com uma intensidade que quase transforma o filme em algo maior. Estou torcendo pelo seu terceiro Oscar. Paul Mescal também se destaca como protagonista e consegue sustentar a dinâmica ao lado de um gigante, o que não é fácil. Sua atuação traz uma juventude ao personagem, o que faz com que a interação entre os dois funcione bem.
Agora, o problema principal para mim foi a tentativa de criar uma conexão direta com o filme original, algo que se mostrou um tiro no pé. (Atenção: spoilers a seguir.) O roteiro decide apresentar o protagonista como filho de Maximus, o herói do primeiro Gladiador. Mas isso gera uma grande inconsistência: o primeiro filme é todo construído em torno da vingança de Maximus pela morte de sua esposa e filho. E agora somos levados a acreditar que ele teve outro filho fora do casamento, que é herdeiro do trono de Roma e que, por alguma razão, cresceu como um forasteiro, mesmo sendo apaixonado pela esposa e dedicado ao filho e literalmente indo ao extremo para se vingar deles?
Outro ponto é que o personagem principal, seu filho, segue o mesmo caminho do pai, fugindo para a África e se tornando um grande guerreiro. Aqui, a pergunta que não sai da minha cabeça é: por quê? Por que replicar o enredo de uma maneira tão parecida? É como se o filme tivesse medo de sair da zona de conforto. E a repetição não para por aí. Ainda temos a perda da esposa, a busca por vingança e, novamente, um governante psicopata como antagonista. No caso, os vilões são os gêmeos imperadores, personagens que deveriam trazer uma ameaça, mas acabam sendo um dos pontos mais fracos do filme. Infelizmente, eles carregavam o peso da intensidade que Joaquin Phoenix trouxe como Commodus no primeiro filme, o que prejudicou, pois ficou caricato e foi uma decepção.
Sei que fazer uma sequência é um desafio, especialmente de um filme com uma mitologia tão rica como Gladiador. Porém, havia uma vantagem: a possibilidade de explorar novas histórias e camadas ou até expandir o universo sem necessariamente refazer o enredo. O filme tinha potencial para ser inovador, mas acabou optando por escolhas seguras, o que o torna previsível.
Outro aspecto que me chamou a atenção foi a qualidade dos efeitos especiais. Em um filme desse calibre, com o peso visual de um Gladiador, o CGI deveria ser impecável. Embora existam algumas cenas épicas bem coreografadas, o CGI em muitos momentos fica evidente demais, tornando algumas sequências difíceis de levar a sério. É fácil se distrair pelos efeitos especiais.
Por fim, as atuações, como mencionei, merecem reconhecimento. Denzel Washington é uma força em cena, e realmente espero que essa atuação lhe traga mais um Oscar. Paul Mescal também se destaca, com uma interpretação sólida que o coloca em um patamar ainda mais alto como ator. Pedro Pascal, por outro lado, é um dos maiores desperdícios do filme. Sua participação é tão mínima que mal faz diferença, o que é uma pena, considerando seu carisma inegável. Joseph Quinn, outro talento, acabou preso em um papel que não permite que ele brilhe. É uma pena que atores com tanto potencial acabem subutilizados em um projeto dessa escala.
No fim, Gladiador 2 consegue trazer alguns momentos emocionantes e cenas épicas que remetem ao primeiro filme, mas o enredo e a repetição de fórmulas acabam diminuindo o impacto geral. A nostalgia é um elemento forte, mas não o suficiente para sustentar uma história que, com tantos recursos e uma mitologia rica, poderia ter oferecido muito mais.
Marina Barancelli
Novembro, 2024
ELENCO
Denzel Washington, Paul Mescal, Pedro Pascal, Joseph Quinn
ROTEIRO
David Scarpa
PRODUÇÃO
Ridley Scott, Michael Pruss, Doug Wick
DIREÇÃO
Ridley Scott