

DESCONHECIDOS
Em Desconhecidos (Strange Darling), um thriller tenso e imersivo escrito e dirigido por JT Mollner, apresenta a premissa de um predador implacável no qual persegue uma mulher ferida pela natureza selvagem do Oregon. Ela faz o possível para se manter um passo à frente de seu agressor, mas a cada momento de tensão, sua força diminui e sua capacidade de sobreviver é cada vez mais comprometida. O agressor, um homem com uma missão cruel, está determinado a capturar sua presa, e é apenas uma questão de tempo até que isso aconteça. O filme, tem a intenção de apresentar o público à uma dramatização dos últimos meses conhecidos de um assassino em série, começa com um caso isolado e rapidamente se transforma em uma onda de assassinatos brutais. A narrativa intensifica-se conforme o serial killer avança, elevando a tensão e o desespero até o clímax final.
NOTA: 5/10
Desconhecidos (2025) inicia com duas afirmações ambiciosas: a primeira, orgulhando-se da filmagem em 35mm; a segunda, prometendo uma história baseada em um assassino real. Essas escolhas parecem buscar um tom misterioso e cult, mas acabam revelando um desejo explícito do diretor JT Mollner por reconhecimento artístico imediato—algo que soa pretensioso desde o início da obra.
O filme abre com uma sequência aparentemente clichê: uma possível final girl, ensanguentada, correndo desesperada por um campo aberto. A partir daí, a narrativa fragmentada tenta se apresentar como um quebra-cabeça, reconstruindo os eventos anteriores ao clímax inicial. Nesse aspecto, Willa Fitzgerald é um dos poucos acertos claros do longa. Sua atuação como 'The Lady' consegue sustentar parte da tensão narrativa e suavizar o excesso de pedantismo da direção. Já Kyle Gallner, interpretando 'The Demon', pouco pode fazer com um personagem unidimensional que parece existir apenas em função de uma reviravolta pontual.
Aqui é inevitável lembrar da teoria da Casca de Noz, de Jill Chamberlain, que afirma categoricamente: 99% dos roteiros amadores falham porque apresentam apenas uma situação, não uma verdadeira história. Embora existam bons filmes centrados em situações, Desconhecidos não consegue ir além da premissa superficial: uma mulher fugindo de um assassino. A virada narrativa, revelando que 'The Lady' é a verdadeira assassina e 'The Demon' um policial quase vitimado, traz pouca profundidade adicional. Surge então a figura da "Electric Lady", uma suposta serial killer na qual o filme se baseia— digo suposta pois esses assassinatos nunca aconteceram. Contudo, fica evidente que o diretor não deseja realizar um mockumentary nem explorar uma narrativa documental, preferindo apenas criar a falsa sensação de realidade dentro de uma estrutura fragmentada.
Ao focar intensamente numa montagem estilizada e numa mise-en-scène cuidadosa, o filme negligencia aquilo que deveria ser o ínicio de tudo: um roteiro sólido e personagens com desenvolvimento consistente. A bela fotografia de Giovanni Ribisi torna-se assim um adorno de luxo numa trama esvaziada de significado, onde até mesmo os prometidos elementos do thriller sexual parecem subutilizados e misóginos, afogados na tentativa excessiva de surpreender o espectador pela estrutura narrativa.
Desconhecidos é, portanto, um exemplo claro de como boas ideias precisam ser cuidadosamente trabalhadas antes de sua execução final. O filme revela-se superficial, ancorado exclusivamente numa linguagem cinematográfica estilizada que funciona mais como um eco das habilidades técnicas do diretor.
Luiz H. Costa
Diretor, Roterista e Produtor
Fevereiro, 2024